Falta conteúdos de Recursos Hídricos na internet!
É incrível como no começo de todo ano sempre ouvimos sobre deslizamentos, enchentes e inundações nas cidades.
Mas porquê então faltam conteúdos brasileiros na área de Hidráulica/Hidrologia/Saneamento na internet?
Parece que temos um problema sem solução que estranhamente não é mostrado tão claramente quando nós, engenheiros e pesquisadores, fazemos uma busca na internet pela área de Recursos Hídricos.
E sabe qual é o ponto? Quando comparamos Recursos Hídricos com Estruturas parece que a proporção de conteúdos é de 1:10. Isso me soa estranho pois tive na graduação as seguintes disciplinas:
Mecânica dos fluidos, Hidráulica 1, Hidráulica 2, Hidrologia, Saneamento 1, Saneamento 2, Saneamento 3, Saneamento 4, Gerenciamento de recursos hídricos, Sistemas hidráulicos prediais, Obras hidráulicas enfim .. pelo menos 12 matérias semestrais
Por outro lado, na área de estruturas tive:
Estática, Mecânica dos sólidos 1, Mecânica dos Sólidos 2, Mecânica das estruturas 1, Mecânica das estruturas 2, Estruturas de Concreto 1,2 e 3, Estruturas de aço, Estruturas de madeira, Concreto protendido e Estruturas pré moldadas .. pelo menos 12 matérias semestrais também.
E isso é bem engraçado. Como pode termos praticamente o mesmo tanto de carga horária em um curso de Engenharia Civil para essas áreas e uma proporção de 1:10 em conteúdos de engenharia disponibilizados na internet?
Talvez haja desinteresse por parte dos alunos? Talvez haja desinteresse por parte dos professores? Talvez falte motivação? Não sei!
Talvez você não se lembre de quando caiu o último prédio no Brasil e nem de quantas pessoas morreram ou se morreram, mas tenho certeza que se lembra de pelo menos uma notícia de uma enchente que ceifou ao menos uma vida de uma pessoa. Aqui a ordem se inverte, parece que a proporção é na verdade 10:1 agora, não?
O que eu sei e que temos um país continental que da mesma forma que tem má distribuição de renda, tem também má distribuição dos Recursos Hídricos.
Um país que 7% da população está contida em 70% dos Recursos Hídricos.
Um país que os 10% mais ricos representam quase 50% de toda riqueza, onde 1% da população recebe mais 27 mil, que corresponde a 36 vezes o salário médio da metade mais pobre.
Talvez haja uma relação entre tudo isso.
O que eu quero dizer é que não faltam desafios na área de Recursos Hídricos. O crescimento das cidades ocupando várzeas e as calhas dos rios coloca todo ano a população em risco. Deslizamentos, inundações, perdas em estabelecimentos e inclusive perdas humanas são frequentes todo ano no nosso pais. Isso é só uma abordagem do problema. Se levarmos em conta o tratamento de água e o saneamento básico, o problema é ainda maior com números absurdos que não vou nem comentar aqui nesse texto.
E a reflexão que fica é: por que uma área com tantos problemas possui comparativamente tão pouco conteúdo na internet? O que podemos fazer para mudar esse cenário?
Só para finalizar, queria contar uma história.
Não sei se você conhece o professor Rodrigo de Melo Porto.
Um cara fantástico que me fez despertar o interesse pela área de Recursos Hídricos usando uma das ferramentas mais básicas e transformadoras existe: um livro.
Em 2018, tive o prazer de conhecê-lo. Um senhor com uma história inteira voltada para ensinar. Diversas turmas, artigos, materiais fantásticos, experiência e sabe o que é o melhor? Humildade.
Cansei de ir em sua sala tirar dúvidas e ele sempre me atendeu com afinco.
Um professor que tem prazer em ajudar e se preocupa em ensinar.
Espero um dia impactar metade que esse homem impactou nessa área relativamente e estranhamente carente, mas encarecidamente linda e desafiadora.
Porto e Marcus, Março – 2018
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