Existe alguma relação entre a Filosofia e a Engenharia Civil?
Nesse artigo vamos entender um pouco sobre a Relação entre a Filosofia e a Engenharia Civil e como isso pode mudar sua carreira.
Durante nossa trajetória na Engenharia, somos incessantemente treinados a desempenhar diversos cálculos – algumas vezes até demasiadamente complexos.
Por exemplo, eles variam desde estimar o torque em uma gangorra num exercício de física do nosso primeiro ano de graduação, até o cálculo de ações do vento em edificações, verificação de remanso em canais ou até mesmo em como calcular a quantidade de encargos de um determinado funcionário de uma empresa.
Somos – Engenheiros Civis – uma das profissões mais versáteis, de maneira geral, justamente por desempenharmos diversas atividades que vão desde (a) gerenciamento de projetos e pessoas, (b) cálculos estruturais, hidráulicos, elétricos (…), (c) licitações, (d) execução de obras, dentre outras.
E quando eu digo que somos engenheiros civis, de forma alguma digo que somos melhores ou piores que alguma outra profissão. O que eu quero mostrar aqui nesse artigo é uma das coisas que poucos pensam: a relação da filosofia com a engenharia.
Existe uma máxima que diz que “Sem a Engenharia a Ciência seria Filosofia“.
O problema é quando não temos tempo de filosofar, de pensar, de tentar entender o por que determinado sistema/estrutura não passou no dimensionamento ou ficou superestimado.
Antigamente, muitos dos cálculos de engenharia eram feitos de maneira manual. O projetista pensava muito antes de lançar um pré-dimensionamento pois praticamente tudo era cumulativo.
Errar um projeto, significava voltar tudo do zero, inclusive as pranchas. Isso criava um senso crítico extremamente importante e fazia com que etapas como a concepção de projeto, fossem ainda mais valiosas e fundamentais.
Afinal, erros e alterações de projeto eram muito custosos, tanto em termos financeiros como de produtividade. Hoje em dia, muito do nosso trabalho foi facilitado, principalmente em termos de softwares e informações disponíveis que fazem com que processos repetitivos sejam rapidamente resolvidos.
Qual o impacto negativo do excesso de informações e softwares?
Hoje em dia, muito diferente de décadas atrás, praticamente todos os engenheiros possuem acesso a um computador, um laptop, uma caculadora e principalmente, possuem acesso à internet – que provém um mundo de informações sobre praticamente qualquer conteúdo.
Desse modo, diversos softwares comerciais surgiram para tornar o dia-dia da engenharia mais facilitado, mais prático e teoricamente retirar todo um peso de cálculo que de certa forma colocava a engenharia como uma profissão extremamente complexa. Principalmente na área de elaboração de projetos.
Porém, toda essa facilidade de acesso a informação e softwares tem um custo. Todo aquele senso crítico que outrora era a principal característica dos engenheiros tem aos poucos sido perdido. E isso é um grande, mas um grande problema.
Mais importante do “passar” as verificações de projeto é tentar buscar a melhor relação custo-benefício
Base teórica-prática não vem do dia pra noite. O conhecimento técnico, científico e pragmático tem que ser a fundação para a tomada de decisões da engenharia civil, principalmente para quem trabalha na elaboração de projetos.
Não existe achismo. Claro, existe bom senso baseado em muita experiência e em conhecimento. Por exemplo, para entender os critérios de projeto, primeiro é necessário saber quais são eles e saber isso é o mínimo e a obrigação de qualquer profissional da área que fez um juramento e que possuí ética.
Antes de uma prancha e uma planilha de cálculos, existe uma demanda – que pode estar relacionada com a garantia da segurança de vidas humanas. Antes de existir uma obra, existe um orçamento limite, que também está relacionado com pessoas.
Porém, muitas vezes esses objetivos são conflitantes.
- Fazer uma obra que maximiza a segurança é simples, é só construir um forte e gastar milhões
- Fazer uma obra que minimiza custos, é seguir a máxima “Eu sempre fiz assim e nunca caiu”
Se eu te disser que a sua casa tem 1% de chance de desabar, você moraria nela?
O papel do engenheiro, na minha visão é, portanto, utilizar todo seu conhecimento para maximizar (a) segurança e (b) minimizar custos. E isso, meus colegas, não existe um botão no software que faça.
Então é para parar de usar softwares, Marcus?
Não! Se você entendeu isso, então você não entendeu nada, infelizmente rs. Os softwares são calculadoras de padaria.
É claro, algumas padarias tem pães mais sofisticados e então essas calculadoras podem resolver contas complexas – o que tá tudo bem – mas antes de qualquer coisa, elas não pensam por você. Quem coloca quantos pães e o tipo de pão nela é você.
Me lembro de um professor de graduação que dizia assim quando usávamos o Ftool.
Garbage in – Garbage out
Isso faz TODO sentido. Se você entra com “lixo – garbage” num software, o máximo que você pode esperar é justamente um lixo de resultado.
Para desempenharmos nosso melhor dentro da engenharia e sermos competitivos dentro da nossa área, primeiro precisamos ter ferramentas que nos poupem tempo para melhor analisarmos os resultados, testarmos hipóteses e para de fato desempenharmos nosso papel de pensamento crítico, nosso papel de filósofos (…).
Como minimizar erros e garantir competitividade?
Uma coisa fica clara logo no começo após se formar. (1) Nosso tempo é curto. (2) Nosso trabalho é arriscado. O momento da graduação é onde temos liberdade para errar e aprender num mundo ideal onde a caneta e o papel representam o canteiro de obras.
Se você está nessa fase, aproveite ao máximo pois é onde temos os menores riscos.
Errar, após formado, é um processo muito custoso e pode significar em danos que podem variar desde um processo judicial contra o responsável quanto perdas materiais e em alguns casos humanas.
É claro que nada substitui um bom livro, uma boa aula e uma boa reflexão. Mas uma vez entendido os cálculos e a base teórica por trás das coisas, é hora de ganhar produtividade e agilidade para se manter competitivo no mercado.
Desse modo, nossas planilhas são desenhadas dentro do que há de mais moderno e atualizado em relação a normas e regulamentos vigentes dentro da Engenharia Civil do Brasil, justamente para proporcionar que cálculos, muitas vezes complexos, sejam feitos de maneira segura e ágil.
Assim, finalmente podemos desempenhar o que nos há de melhor – nossa capacidade racional de resolver problemas complexos de maneira simples, elegante e eficiente.
Se eu te disser que a sua casa tem 1% de chance de desabar, você moraria nela?
Um grande abraço
Eng. Marcus, Ph.D.